Brasil
09 Feb 2019
Arquivo/Tomaz Silva/Agência Brasil
BNCC do ensino básico incluiu entre as competências que o aluno deve ter a leitura crítica da informação que recebe por jornais, revistas, internet e redes sociais
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino básico incluiu entre as competências que o aluno deve ter a leitura
crítica da informação que recebe por jornais, revistas, internet e
redes sociais. Especialistas avaliam que foi um avanço a inclusão da
educação midiática na BNCC, pois a escola poderá dar instrumentos para
que o estudante possa se tornar um consumidor e produtor de conteúdo
responsável.
No fim de 2017, o Ministério da Educação homologou a Base Nacional
Comum Curricular do ensino infantil e fundamental e, no fim do ano
passado, aprovou a BNCC do ensino médio. O documento estabelece o mínimo
que deve ser ensinado em todas as escolas do país, públicas e
particulares.
A partir da base, os estados, as redes públicas de ensino e as
escolas privadas deverão elaborar os currículos que serão de fato
implementados nas salas de aula. Os novos currículos para o
ensino básico estão em fase de elaboração pelos estados.
Habilidade
A base prevê, por exemplo, que o aluno do sexto ao nono ano do ensino
fundamental desenvolva a habilidade de leitura e produção de textos
jornalísticos em diferentes fontes, veículos e mídias, a autonomia e
pensamento crítico para se situar em relação a interesses e
posicionamentos diversos, além de saber diferenciar liberdade de
expressão de discursos de ódio.
“A questão da confiabilidade da informação, da proliferação de fake news [notícias
falsas], da manipulação de fatos e opiniões tem destaque e muitas das
habilidades se relacionam com a comparação e análise de notícias em
diferentes fontes e mídias, com análise de sites e serviços checadores de notícias [...]”, diz um trecho do documento.
Para os estudantes do ensino médio, as habilidades preveem a
ampliação do repertório de escolhas de fontes de informação e opinião, a
comparação de informações sobre um fato em diferentes mídias, além do
uso de procedimentos de checagem de fatos e fotos publicados para
combater a proliferação de notícias falsas.
A base também recomenda que os alunos possam atuar de maneira ética e
crítica na produção e compartilhamento de comentários, textos
noticiosos e de opinião e memes nas redes sociais ou em outros ambientes
digitais.
Desafios
A presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, afirma que
foi um significativo ganho colocar o tema da educação para a mídia na
BNCC, pois significa que o campo jornalístico-midiático terá
que ser abordado pelas escolas em âmbito nacional. No entanto, ela
destacou que há ainda um longo trabalho pela frente para que a prática
seja efetivamente adotada nos currículos.
“Nunca foi tão necessário, nesse ambiente de tecnologia, educar para a
mídia, para o consumo de informação. Se a criança e o adolescente
desenvolvem senso crítico, a escola está contribuindo para a formação de
cidadãos que podem exercer melhor sua liberdade de expressão”, diz
Patrícia.
“Educação midiática tem o papel de antídoto às fake news:
você percebe que tem algo estranho, vai pesquisar outra fonte, e não
simplesmente compra uma informação como verdade absoluta e a repassa
para a frente”, acrescenta a especialista.
Segundo ela, são três os desafios atuais para a iniciativa chegar às
salas de aula: disseminar o conceito da educação midiática, divulgando
sua importância, formar os professores para que eles possam abordar o
tema, e desenvolver a produção de conteúdos e materiais relevantes para
serem usados na escola.
Alfabetização
O representante do Comitê Internacional da Aliança Global para
Parcerias em Alfabetização de Mídia e Informação da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na América
Latina e Caribe, Alexandre Sayad, lembra que o tema está incluído entre
as competências a serem abordadas na disciplina de língua portuguesa.
“O professor de língua portuguesa vai ter que colocar
na sua aula. Mas nada impede outra disciplina abordar o tema. A questão
da mídia é presente na vida das pessoas. Há uma tendência na educação,
em geral, de se descompartimentalizar as disciplinas”, diz Sayad.
Segundo ele, atualmente há poucas escolas no Brasil que tratam do
assunto em sala de aula. “Identificar a fonte de notícia é uma
habilidade necessária no mundo hoje. É pela alfabetização midiática que você consegue separar o joio do trigo na mídia”. - Agencia Brasil