Educação
04 Nov 2018
21:25
alterado em 04/11 às 21:25
Valter Campanato/Agência Brasil
No primeiro domingo do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), foram
aplicadas as provas de linguagem, ciências humanas e redação. Alguns
temas abordados foram a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
racismo, ditadura militar e violência contra a mulher.
Logo na sexta questão, a prova citou a diretora-geral da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Audrey
Azoulay, em uma fala sobre a existência da discriminação e do ódio na
sociedade. “A Declaração Universal dos Direitos Humanos está completando
70 anos em tempos de desafios crescentes, quando o ódio, a
discriminação e a violência permanecem vivos”.
Racismo
O exame também incluiu o trecho de uma matéria de jornal que cita a
“intolerância do internauta” brasileiro, traduzida em mensagens de
racismo, posicionamento político e homofobia. O racismo também foi
abordado em um poema que aborda o discurso racista internalizado na
sociedade. O racismo apareceu ainda na prova de ciências humanas,
através da ativista Rosa Parks.
Rosa Parks foi uma costureira negra norte-americana que entrou para a
história da luta pela igualdade de direitos civis ao recusar-se a ceder
seu lugar no ônibus a uma pessoa branca. Parks foi presa por um dia,
mas seu gesto deu início a um boicote ao transporte público local e
culminou, meses depois, com o fim da lei que determinava a separação de
negros em assentos separados dos brancos nos Estados Unidos. O episódio
envolvendo Rosa Parks foi incluído na prova.
Violência contra a mulher
A violência contra a mulher foi outro tema levantado nas provas
de hoje. Na prova de linguagens, códigos e suas tecnologias, uma
campanha publicitária contra o assédio a mulheres em trens de Porto
Alegre foi tema de uma questão.
Uma peça publicitária da década de 1940 foi tema de outra questão na
prova de ciências humanas e suas tecnologias. A peça reforça os
estereótipos de mulher submissa e a prova questionou o estudante sobre
essas distorções da visão, predominante à época, que se tinha da mulher.
Ditadura militar
A ditadura militar foi tema na prova de ciências humanas. O exame
reproduziu a carta do cartunista Henfil ao presidente Ernesto Geisel
escrita em 1979. Na carta, Henfil declara a devolução do seu passaporte,
uma vez que os passaportes de outras oito pessoas, dentre elas Leonel
Brizola e Miguel Arraes, tinham sido negados.
“Considerando que, desde que nasci, me identifico plenamente com a
pele, a cor dos cabelos, a cultura, o sorriso, as aspirações, a história
e o sangue destes oito senhores. […] venho por meio desta devolver o
passaporte que, negado a eles, me foi concedido pelos órgãos competentes
do seu governo”, diz um trecho da carta reproduzida no exame.
Redação
Hoje, os estudantes fizeram provas de linguagem, ciências humanas e
redação. O tema da redação foi “Manipulação do comportamento do usuário
pelo controle de dados na internet”. O exame segue no dia 11 de
novembro, quando os estudantes farão provas de ciências da natureza e
matemática.
Prova mais conteudista
Para o professor de redação, sócio e vice-presidente de educação do
curso online Descomplica, Rafael Cunha, o Enem manteve o padrão das
provas dos últimos anos. “Muita leitura, uma variedade bastante grande
de textos, desde técnicos, passando por literários, gráficos,
ilustrações, fotografias e obras de arte”.
Segundo Cunha, a prova foi essencialmente de leitura e interpretação.
“Foi uma prova de diversos textos ligados a questões sociais bastante
relevantes como imagem da mulher, preconceito em relação à mulher,
racismo. Uma prova com preocupação social bastante forte”.
O professor de filosofia e sociologia do curso pré-vestibular online
ProEnem Leandro Vieira concorda que o Enem 2018 seguiu tendência de anos
anteriores e estava mais complexa. “A prova estava mais complexa, mais
conteudista. Os participantes precisavam de mais conteúdo e menos
intepretação para resolver questões”, diz e acrescenta: “A prova estava
extremamente cansativa, muitos textos longos. Exigiu do aluno atenção e
cuidado, exigiu que se mantivesse calmo."
De acordo com o professor, as questões sociais foram mantidas e havia
mais questões de história. Geografia perdeu um pouco o espaço, na
avaliação de Vieira.
A tendência conteudista, para Vieira, pode excluir estudantes menos
preparados. “Eu acho que o Enem quando iniciou lá atrás tinha a proposta
de ser uma prova mais abrangente, que possibilitava abranger o Brasil
em maior escala. Está perdendo um pouco esse viés. Distanciando alunos
que não tem acesso a cursinho e a educação de maior qualidade”.
A partir das 20h30, professores irão corrigir, ao vivo, no especial Caiu no Enem, veiculado na TV Brasil, na web e nas rádios Nacional e MEC. Os candidatos podem participar do programa pela web, em tempo real, enviando as dúvidas e comentários para as redes sociais da TV Brasil com a hashtag #CaiuNoEnem.
Segundo domingo de provas
O segundo domingo de provas será dia 11 de novembro, quando os estudantes farão provas de ciências da natureza e matemática.
A estrutura para aplicação do Enem envolve 10.718 locais de
aplicação, 155.254 salas e mais de meio milhão de colaboradores. Foram
impressas 11,5 milhões de provas de doze Cadernos de Questões
diferentes. Haverá ainda uma videoprova em Língua Brasileira de Sinais
(Libras). Ao todo, são quase 600 mil pessoas envolvidas na aplicação do
exame.
A nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino
superior público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em
instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e
para participar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Gabarito
O gabarito oficial do Enem 2018 será divulgado pelo Inep até 14 de
novembro. Já o resultado deverá ser divulgado no dia 18 de janeiro de
2019.
Ao todo, 5.513.726 estudantes estão inscritos para fazer o exame em 1,7 mil cidades. - Agencia Brasil