Ciência & Tecnologia
16 Mar 2018
16:30
A tecnologia da informação (TI) tem
se tornado tão importante e central em todas as esferas da vida humana
associada que é provável que no futuro próximo se criem indicadores de
desempenho individual, grupal e institucional a partir do grau de envolvimento
dessa tecnologia por todos os recantos organizacionais. E isso implica em
admitir a participação, direta, efetiva, participativa, colaborativa do pessoal
de TI na própria geração dos resultados individuais, grupais e institucionais.
No caso das organizações de ciência e tecnologia, o que se tem visto no Brasil
ao longo das últimas duas décadas é a crescente participação desses
profissionais formidáveis nas diversas equipes de produção de resultados, desde
as atividades nas salas de aulas às ações de mapeamento ambiental de
planejamento estratégico, desde os levantamentos bibliográficos em bases de
dados mundiais até a própria pré-avaliação de artigos científicos para
periódicos de alto impacto. Quanto mais a TI invade as atividades-fim, melhor o
desempenho de todos. Este artigo tem como objetivo sintetizar a maneira de
operações da TI para que as organizações se tornem excelentes.
O que estamos chamando de
organizações excelentes são aquelas que cumprem com o que prometem para o
governo e para os ambientes de suas inserções. No caso do governo, por exemplo,
que os objetivos previstos nos projetos pedagógicos (PPC) sejam alcançados e
que os objetivos e metas dos planos de desenvolvimento institucional (PDI)
também o sejam. No caso dos ambientes, que os profissionais formados sejam
capazes de lidar com desenvoltura e sucesso com os problemas e desafios dessas
sociedades, organizações e instituições. Noutras palavras, uma organização de
sucesso é aquela que faz aquilo que prometeu fazer.
Infelizmente, o que se tem visto ao
longo das últimas duas décadas de avaliação do funcionamento de organizações de
ciência e tecnologia pelo governo é que ainda há um número muito grande delas
que não cumprem o que prometem. E, dentre aquelas que cumprem, um número
alarmante fazem apenas o estritamente necessário para não se enquadrarem no
estrato inferior, de não cumprimento. Poucas, mas em número crescente,
conseguem ir além do normal e introduzir inovações nos seus sistemas de
operações e produção que as fazem se destacar das demais. São essas as que
chamamos de organizações de excelência.
O que elas têm de diferente das
organizações que não são de excelência, que configuram o estrato mais baixo das
avaliações governamentais? A resposta não é animadora: muita coisa. Muita coisa
mesmo. Isso quer dizer que desenvolvem uma gama muito grande de atividades que
convergem para a produção de seus resultados excelentes. E a cada semestre
conseguem aperfeiçoar o número já elevado de atividades com novas outras, mas
de forma incrivelmente menos onerosa do que o estágio anterior. É isso mesmo:
quanto mais atividades desenvolvem, mais diminuem os custos de execução dessas
atividades.
Se não sabemos o que essas
organizações têm de diferentes, sabemos o que elas têm de igual: uma TI que
funciona. Vamos entender isso. Uma organização A desenvolve uma série de
atividades, centenas delas, todo semestre para produzir um resultado formidável
RA, enquanto uma organização B desenvolve outra série de atividades, quase
todas diferentes da organização B, também semestralmente e produz um resultado
maravilhoso RB. Ainda em termos comparativos, a organização C, D, E e assim por
diante desenvolvem centenas de atividades quase todas diferentes e produzem
resultados diferentes, mas excelentes. Organizações de baixo desempenho fazem
poucas atividades, quase sempre repetitivas e também quase sempre sem inovação
semestral.
Se essas organizações magistrais são
diferentes em operação, elas são, se não iguais, muito parecidas em um ponto:
usam TI de forma completamente diferente das organizações de baixo desempenho.
Mas isso não quer dizer que elas usam a TI de forma igual. No máximo, poderíamos
dizer que a usam de forma parecida. Para forçar a igualdade, só a partir de uma
análise panorâmica da atuação. Essa análise panorâmica pode ser traduzida em
linguagem gerencial da seguinte forma: a TI participa diretamente na produção
dos resultados operacionais, setoriais e institucionais.
Nessas instituições, o pessoal de TI
não manuseia cabos de fibra ótica, não fica perdendo tempo com vírus, invasão e
coisas do gênero. Eles participam da parte inteligente das organizações,
prevendo, planejando, implementando, avaliando e replanejando cada detalhe da
produção dos resultados desde a sala de aula até a satisfação dos usuários com
cada profissional formado ou cada tecnologia encomendada pelas organizações. O
pessoal de TI faz parte, por exemplo, da equipe de sustentação das
investigações científicas com a análise dos sistemas e seus desempenhos para a
produção tecnológica de cada laboratório ou grupo de pesquisas. Dada a sua
participação efetiva nos resultados, alguns dos membros de TI têm até seus nomes
dentre o rol de autores das investigações, tão decisiva foi sua contribuição
para a geração do resultado que foi publicada ou da tecnologia que ali foi
gerada.
Nessas organizações de excelência já
está longe o tempo em que o pessoal de TI ficava trancado em uma sala a eles
reservados. Há ainda a sala com máquinas e equipamentos, mas quase sempre são
operados por terceirizados, por serem atividades extremamente simples diante do
desafio que cérebros tão privilegiados têm que enfrentar. E têm enfrentado com
sucesso nessas organizações, tanto que ajudaram a transformá-las em excelentes.
Como consequência, é triste ver
pessoas com dons tão valorosos se perderem isolados na imaginação de que tudo
corre bem ao seu redor. É doloroso visualizar capacidades formidáveis serem
contidas pela inação, pela falta de percepção de que cada unidade
organizacional tem coisas a fazer, objetivos a alcançar, produtos a entregar. A
Inteligência está chegando e invadindo com muita receptividade todos os
recantos organizacionais. Sem a intenção de ser profeta, um dia há de chegar
essa centelha de luz a todas as organizações de ciência e tecnologia do Brasil.
E só então começaremos a efetivamente construir o futuro há séculos esperado,
com a ajuda do pessoal de TI...
*Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas
(IFAM)
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