Xerente
12 Oct 2019
“Nossos antepassados lutavam para defender o que era
deles, agora vocês estão aqui porque são nossos amigos”. As palavras do Cacique
Dakburôikwa Xerente ecoaram na área já desmatada de 80x50 metros localizada na
Aldeia Ktẽpo,
distante cerca de 60 km de Tocantinía, que até o próximo ano estará abrigando o
Centro de Fortalecimento da Cultura Xerente. O lançamento oficial do projeto
controu com a presença da Agência de Desenvolvimento do Turismo e Economia
Criativa (Adetuc), representantes dos clãs da etnia, da Prefeitura de
Tocantínia, do Distrito Sanitário Especial
Indígena (DSEI), e deverá ser um marco na preservação e
difusão cultural da etnia, bem como um receptivo para o etnoturismo.
Conforme Srewe Xerente, presidente da União Indígena
Xerente (UNIX), o projeto é financiado com recursos do Banco Mundial, por meio
do Projeto BGM Brasil - Mecanismo de Doação
Dedicado a Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais no âmbito do Programa de
Investimento Florestal. A obra, que lembra o formato da copa de uma árvore,
incluirá um centro de convivência central e seis krys (casas) nas laterais,
cada uma simbolizando um dos clãs Xerente.
Srewe lembra ainda que o
projeto envolve inicialmente 12 aldeias das 85 aldeias Xerente, sendo que a Ktẽpo foi escolhida para receber a obra por sua
localização no centro do território indígena e como uma deferência ao ancião
Dakburôikwa, de 76 anos e detentor da sabedoria do seu povo. “Um ancião é uma
biblioteca para a gente”, explica o presidente da UNIX, lembrando que o projeto
também inclui permacultura, desenvolvimento de oficinas de saberes tradicionais
e desenvolvimento de roteiros turísticos. “Queremos garantir a autonomia Akwen,
com geração de emprego e renda”, completa, lembrando que os Xerente se autodenominam
Akwen.
O projeto arquitetônico é assinado por Tomaz Lotufo, da
SemMuros Arquitetura Integrada, escolhido por meio de edital. O arquiteto esteve
na Aldeia Ktẽpo
em julho, para realizar oficinas com a comunidade, que opinou ativamente no
desenvolvimento do projeto, e apresentou sua proposta durante o lançamento
oficial. “A ideia é praticar a cultura Xerente e receber turistas neste espaço
de convivência”, revelou.
Representando a Adetuc, a gerente de Fomento e Promoção
da Cultura, Lívia Iwasse, enfatizou o apoio do Governo do Estado que, por meio
da Agência tem desenvolvido vários projetos voltados para a preservação
cultural e cidadania dos povos tocantinenses.
Segundo o superintendente de Cultura, Álvaro Júnior,
entre os projetos que irão contemplar as etnias tocantinenses está o Aldeia
Cidadã, o resgate das danças tradicionais e aulas de música, que deverão ser
implatados em breve. “Estamos
trabalhando para oferecer aos indígenas melhor qualidade de vida, o
fortalecimento da cultura, o incentivo a projetos voltados para a geração de
emprego e renda”, resume.
O presidente da Adetuc, Tom Lyra, enfatiza a importância
do etnoturismo no contexto do resgate cultural e da geração de renda. “O Brasil
tem uma oferta muito baixa de postos de trabalho para os indígenas que vivem
nas cidades, por isso é fundamental o fomento a ações que visem mantê-los em
suas comunidades, mas com qualidade de vida”, pontua, lembrando que os projetos
contam com o apoio do governador Mauro Carlesse, que inclusive já abriu as
portas do Palácio Araguaia para ouvir demandas de algumas etnias.